30/09/2010

if
no man is an island
temo
não ser um homem

16/05/2010

Poema é coisa fina,
Daquelas que se toca de latex e
Monóculo,
Pedra preciosa, Jade Rubi
Diamante
Ouro de sem quilates
Prata fora-da-lei.

Poema é sacrossanto,
Herança dos deuses aos
Homens,
Sopro divino, bafo de vino.

Poema é
Merda bem-cheirosa
Flora selvagem a crescer em
Estrume, sol, mar, céu,
Noite, vida e
Fossa séptica.

Poema é história maior
Sem conclusão
Ponto final.

Novembro de 2009.

02/10/2009

02/07/2009

eu só existo porque incompleto. se me esquecer de mim inteiro, morro. se me esquecer de me terminar, morro. se parar, morro. eu só sou porque incompleto. a minha vida é construção eterna.

27/06/2009

eu nunca hei-de ler os gregos.
nunca lhes vou comer a carne.
nem a homero nem a sofocles.

os gregos não são de ler –
comer, absorver, beber –
os gregos não são para ler.

e os vis romanos,
não me fales dos homens do lácio,
corajosos cobardes.

eu nunca hei-de ler os latinos –
comer, absorver, beber –
já sofro com o português
que lhes herdei.

eu nunca hei-de ler os gregos.
eu nunca hei-de ler os gregos.
eu nunca hei-de ler os gregos.

eu nunca hei-de ler os gregos
a não ser em tudo o que
ler

a burocracia é um mal desnecessário sem o qual não se consegue viver.

19/06/2009

considere-se um mundo com um homem no centro. considere-se que não se trata de um homem qualquer mas de um humanista puro. considere-se este um homem perfeito. considere-se que não há conflito semântico entre os vocábulos homem e perfeito – ou seja, ignore-se a antítese. ignorando a antítese é-se forçado, consequentemente, a ignorar todos os lexemas com significado, ainda que remotamente, ligados ao conceito de posições opostas. ignore-se, portanto, as palavras oxímoro, antónimo, desavença, conflito. poder-se-ia forçar o esquecimento da guerra e seus sinónimos. assim seja. consequência: este homem no centro do mundo, sendo perfeito, aperfeiçoou-o. de repente, um mundo antropocêntrico deixou de ser uma ideia renascentista, logo, arcaica. missão: encontrar o homem perfeito. matá-lo.

não sei concentrar-me. não sei onde me devo focar, a que distância devo manter-me para ser o mundo. se me colo ao teclado vejo todo o teclado, pormenores de fabrico, defeitos de letra (tenho um m perneta e já não sei qual é o i o j ou o l) mas todo o quarto me passa ao lado. se me afasto do teclado percebo todo o compartimento, sei o que me rodeia, a que altura está o tecto de me cair, quantas paredes tem o quarto (quatro, tem quatro paredes) – oposição, perco o pormenor do erro. nada tão interessante como o erro. nada tão interessante quanto tudo.

o meio termo não existe.

é preciso calma, pergunto.
a resignação é mal vista.

é necessário medo.
é necessário o medo.

é essencial não te curvares.
é vital não te curvares.

pensamento erguido, caminha de costas.
de frente com o medo.

17/06/2009

sou o retrato de
um homem in

acabado.